O Efeitos Nocivos das Telas no Desenvolvimento do Cérebro
POR VANDI DOGADO
Michel Desmurget, um renomado neurocientista francês, tem chamado atenção com suas pesquisas sobre os efeitos nocivos das telas digitais na saúde e no desenvolvimento cognitivo infantil. Seu livro "Fábrica de Creino Digital" (publicado em inglês como "Screen Damage: The Dangers of Digital Media for Children") critica duramente o uso excessivo de dispositivos eletrônicos por crianças e adolescentes, inclusive demonstrando que a Geração Z (Nativos Digitais) é a primeira a ter a média de QI (Quociente Intelectual) menor do que dos pais, ou seja, o uso excessivo de telas diminui a inteligência lógica.Desmurget argumenta que a exposição prolongada às telas desde a primeira infância tem consequências desastrosas para o desenvolvimento cognitivo e emocional. Ele associa o uso excessivo de dispositivos digitais a problemas de saúde, comportamento agressivo e ansiedade em crianças.
Principais pontos das ideias de Desmurget
Desenvolvimento Cognitivo Prejudicado: a falta de comunicação humana real nos primeiros quatro anos de vida afeta irreversivelmente o desenvolvimento, especialmente na aquisição de linguagem. Ele ressalta que a exposição às telas rouba tempo crucial que poderia ser usado em atividades cognitivas enriquecedoras, comprometendo o desenvolvimento intelectual.
Desigualdade Social Digital: o uso de dispositivos digitais está exacerbando as desigualdades sociais. Crianças de famílias menos favorecidas tendem a passar mais tempo em frente às telas do que seus pares mais privilegiados, agravando as desvantagens acadêmicas e de saúde que já enfrentam. Ele também critica a hipocrisia de muitos líderes da indústria tecnológica que restringem o uso de telas por seus próprios filhos enquanto promovem esses produtos para o público.
Recomendações Rigorosas: Desmurget defende políticas rigorosas para limitar o tempo de tela das crianças. Ele sugere que crianças menores de seis anos não devem ser expostas a telas de forma alguma, e que entre seis e doze anos, o tempo de tela deve ser limitado a no máximo 60 minutos por dia. Essas recomendações baseiam-se em uma análise detalhada de estudos científicos que mostram os impactos negativos da exposição prolongada às telas.
Crítica aos Nativos Digitais: Desmurget também questiona o conceito de "nativos digitais", argumentando não haver necessidade de adaptar a educação para atender a supostas necessidades digitais especiais das crianças. Ele defende que a introdução tardia das tecnologias digitais pode proteger o desenvolvimento cognitivo e comportamental das crianças, permitindo que adquiram habilidades digitais mais tarde, quando seus fundamentos cognitivos já estiverem solidificados.
O neurocientista alerta que os efeitos da digitalização precoce são profundos e duradouros, afetando não apenas o desempenho acadêmico, mas também a saúde mental e o bem-estar geral das crianças. Sua obra serve como um chamado à ação para pais, educadores e formuladores de políticas, instando-os a reconsiderar o papel das telas na vida das crianças e a promover um ambiente mais saudável e equilibrado para o desenvolvimento infantil.
Já em seu último livro "FAÇA-OS LER: para não criar cretinos digitais", Michel Desmurget argumenta que a leitura é a solução mais eficaz para combater os efeitos negativos da exposição excessiva às telas digitais. O neurocientista francês destaca como a leitura oferece uma alternativa saudável e intelectualmente estimulante para crianças e adolescentes.
Benefícios da Leitura de Livros:
Desenvolvimento Cognitivo e Linguístico: a leitura estimula diversas áreas do cérebro, especialmente as responsáveis pela linguagem, compreensão e memória. Diferentemente de atividades passivas como assistir televisão, a leitura ativa a mente, enriquece o vocabulário e aprimora as habilidades de compreensão e análise crítica.
Desenvolvimento Emocional e Social: os livros frequentemente exploram temas complexos e personagens multifacetados, permitindo que os leitores desenvolvam empatia e habilidades de compreensão emocional. Através da leitura, as crianças aprendem a reconhecer e entender diferentes emoções e perspectivas, aspectos fundamentais para o desenvolvimento social e emocional.
Melhoria da Concentração e Disciplina: a leitura exige foco e concentração, habilidades muitas vezes prejudicadas pelo uso excessivo de dispositivos digitais. Ao dedicar tempo à leitura, as crianças aprendem a se concentrar por períodos mais longos, beneficiando outras áreas de suas vidas acadêmicas e pessoais.
Redução do Estresse: estudos mostram que a leitura pode reduzir significativamente os níveis de estresse, superando outras atividades relaxantes como ouvir música ou caminhar. A imersão em um bom livro proporciona uma fuga mental saudável, ajudando a reduzir a ansiedade e promover o bem-estar geral.
Desigualdade Digital e Acesso à Leitura: Desmurget também aborda a desigualdade no acesso às tecnologias digitais e aos livros. Ele observa que crianças de famílias menos privilegiadas tendem a ter mais acesso a telas do que a livros, agravando as desigualdades educacionais e sociais. Promover a leitura em comunidades desfavorecidas torna-se, portanto, uma estratégia crucial para combater essas desigualdades e promover um desenvolvimento mais equitativo.
Segundo Desmuget, para mitigar os efeitos negativos das telas digitais e promover hábitos de leitura é preciso tomar algumas medidas.
Limitar o Tempo de Tela: crianças menores de seis anos devem evitar o uso de telas, e aquelas entre seis e doze anos devem ter o uso limitado a no máximo 60 minutos por dia.
Incentivar a Leitura Diária: pais e educadores devem estimular as crianças a ler diariamente, oferecendo acesso a uma variedade de livros adequados à idade e aos interesses das crianças.
Promover Ambientes Livres de Dispositivos: criar espaços e momentos em casa e na escola onde o uso de dispositivos digitais é restrito e a leitura é incentivada pode ajudar a estabelecer hábitos saudáveis de leitura.
Michel Desmurget argumenta convincentemente que a leitura é uma solução poderosa para os desafios impostos pela era digital. Ao promover a leitura e limitar o tempo de tela, podemos apoiar o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças, preparando-as melhor para o futuro. A leitura não só enriquece o intelecto, mas também nutre a alma, oferecendo uma alternativa valiosa ao consumo passivo de mídia digital.
Muitos países têm eliminado o uso de celular em sala de aula devido às pesquisas neurocientíficas que demonstram os danos ao cérebro que as telas provocam.
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