Entenda o Grupo Wagner: de parceiros à inimigos da Rússia
POR TALES NIECHKRON
O Grupo Wagner, uma força de mercenários privada, desempenhou um papel significativo no conflito em andamento na Ucrânia. Além de operar na Ucrânia, o grupo também esteve envolvido em outros países, como Síria, Líbia, Sudão e República Centro-Africana, onde defendeu os interesses russos. Estima-se que mais de 20 mil mercenários do Grupo Wagner estejam atualmente ativos na Ucrânia, representando cerca de 10% das forças russas em combate.
Sob a liderança de Yevgeny Prigozhin, o Grupo Wagner recruta principalmente mercenários provenientes de prisões russas para lutar em nome dos interesses russos. No entanto, as relações entre o Grupo Wagner e o governo russo estão atualmente abaladas. Prigozhin tem expressado publicamente sua insatisfação com a falta de apoio por parte do governo russo na Ucrânia, chegando ao ponto de ameaçar derrubar a liderança militar russa. Ele acusa os militares de lançarem um ataque fatal contra suas tropas. Embora essa disputa não seja considerada um golpe de Estado, ela representa um desafio direto à autoridade do presidente russo.
Uma das atividades principais do Grupo Wagner na Ucrânia é a realização de ataques de "bandeira falsa" no leste do país. Esses ataques são ações políticas ou militares planejadas com o objetivo de atribuir a responsabilidade aos oponentes pelos eventos ocorridos. A intenção é fornecer um pretexto para uma intervenção militar russa. Desde sua primeira aparição em 2014, cerca de mil mercenários do Grupo Wagner apoiaram as milícias pró-russas na luta pelo controle das regiões de Luhansk e Donetsk.
Promotores ucranianos acusaram três mercenários do Grupo Wagner de cometerem crimes de guerra, incluindo assassinato e tortura, no vilarejo de Motyzhyn, próximo a Kiev. Além disso, há suspeitas de que eles estejam envolvidos na morte de civis em Bucha durante a retirada das forças russas de Kiev.
Embora a Rússia negue oficialmente qualquer relação com o Grupo Wagner, evidências sugerem que o grupo seja secretamente financiado e supervisionado pela agência de inteligência militar russa, conhecida como GRU. A base de treinamento do Grupo Wagner em Mol'kino, localizada no sul da Rússia, fica próxima a uma base do exército russo, de acordo com informações obtidas de fontes ligadas aos mercenários.
Além de seu envolvimento na Ucrânia, o Grupo Wagner também esteve ativo em outros conflitos ao redor do mundo. Na Síria, eles lutaram ao lado das forças pró-governo e desempenharam um papel na proteção de campos de petróleo. Na Líbia, apoiaram as forças leais ao general Khalifa Haftar durante a ofensiva contra o governo oficial em Trípoli. Além disso, atuaram na República Centro-Africana, onde forneceram segurança para minas de diamantes, e no Sudão, onde protegeram minas de ouro. Recentemente, foram convidados pelo governo do Mali para fornecer segurança contra grupos militantes islâmicos.
O Grupo Wagner ganhou visibilidade desde o início do conflito na Ucrânia. Atualmente, conta com aproximadamente 5 mil mercenários atuando em diversas partes do mundo. No entanto, suas atividades não estão isentas de controvérsias. Tanto a ONU quanto o governo francês acusaram o Grupo Wagner de cometer violações dos direitos humanos e roubar civis na República Centro-Africana, resultando em sanções impostas pela União Europeia. As Forças Armadas dos EUA também acusaram os mercenários do Grupo Wagner de implantarem minas e artefatos explosivos nos arredores de Trípoli, na Líbia.
A situação em que o Grupo Wagner se voltou contra a Rússia na guerra da Ucrânia é complexa e repleta de tensões. O futuro dessa relação é incerto e pode ter implicações significativas no cenário internacional. Acompanhar os desdobramentos desse conflito interno será fundamental para compreender as dinâmicas geopolíticas em jogo.
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