As lições simbólicas das tamareiras

Por Vandi Dogado 

Há uma antiga canção do deserto que ecoa no tempo, "Quem semeia a tamareira jamais saboreia suas tâmaras". Uma vez, esse adágio foi sussurrado por um orador, cuja voz foi silenciada por uma interrupção abrupta. Um espectador, ansioso pela compreensão, ergueu a mão, e com voz trêmula, perguntou: "Mas por quê?"

Com um sorriso enigmático, o orador, como um ator em seu palco, revelou o mistério - uma tamareira exige quase um século para se enfeitar de frutos. Imagine-se um jovem de vinte verões, plantando essa árvore. Seria preciso contar cento e vinte luas de inverno para saborear suas tâmaras. Este adágio, como um diamante, guarda em si múltiplas facetas de sabedoria e lições de linguagem.

Se interpretado literalmente, o provérbio parece abraçar um paradoxo. Mesmo que, naqueles tempos distantes, a vida fosse um sopro passageiro, poderiam existir exceções. Imagine uma criança de dez primaveras, plantando essa palmeira altiva. Ela poderia saborear seus frutos quando as nove décadas de sua vida se completassem. Se apenas uma única exceção existisse, não seria possível afirmar de maneira absoluta que "quem planta tamareira não colhe tâmaras".

Ao mergulhar mais profundamente na compreensão do tema, descobre-se que apenas as tamareiras ancestrais precisavam de tanto tempo para vestir-se de frutos. Hoje, sob a égide da engenharia genética, uma tamareira se veste de frutos entre dois e quatro anos; logo, praticamente qualquer mão que semeie uma tamareira poderá, sem dúvida, colher suas tâmaras. Isso seria um entendimento acurado? Certamente. Contudo, ao considerar a expressão em seu sentido figurado, uma infinidade de interpretações e significados profundos floresce.

Na tapeçaria oral dos povos árabes, uma história é tecida: a de um ancião que, no coração do deserto, plantava tamareiras. Um jovem aproximou-se e questionou: "Por que gastas teu tempo semeando o que jamais irás colher?" O ancião, com a calma de quem conhece o ritmo do tempo, respondeu: "Se todos pensassem como tu, ninguém no mundo jamais saborearia tâmaras. Se hoje podemos degustar a tâmara, é porque alguém, em algum lugar, plantou uma tamareira". Assim, o adágio revela que o verdadeiro valor não está no fruto que se colhe, mas no legado que se semeia.

Ao refletir sobre este provérbio, é possível extrair uma série de lições. Muitas vezes, o homem é egoísta e ingrato. Ao receber a notícia de que a água potável se esgotará em 90 anos, provavelmente dir-se-ia "Graças aos céus, não estarei aqui para presenciar tal catástrofe. Não obstante, outros estarão, talvez nossos descendentes. Se não nos preocupamos com o futuro da humanidade por egoísmo, também não expressamos gratidão àqueles que, ao longo da história, possibilitaram avanços tecnológicos e medicinais para aliviar nossas dores. Não agradecemos aos cientistas que descobriram a cura para enfermidades terríveis, aos bravos que lutaram contra governos opressivos para garantir a liberdade que hoje usufruímos, ou ao humilde agricultor que, com o suor de seu rosto, oferece o alimento que compramos facilmente nos mercados. Somos indiferentes àqueles que, de alguma forma, contribuíram para a história da humanidade.

Outra joia de sabedoria que podemos extrair desse provérbio é que "quem planta tamareira" é não apenas altruísta, mas também otimista e esperançoso. Acredita na continuidade da vida e na importância de semear para as gerações futuras. Essa qualidade está se tornando cada vez mais rara no mundo contemporâneo, onde a destruição do meio ambiente para fins puramente industriais e capitalistas é prática comum. Infelizmente, a palavra "sustentabilidade" se tornou um trocadilho amargo em muitos desses locais.

As tamareiras, ou datileiras (Phoenix Dactylifera), cultivadas há milênios nos oásis do deserto do norte da África, são verdadeiros símbolos de resistência e força. Elas, por analogia, ensinam-nos a resistir às adversidades da vida e a persistir apesar dos desafios. Além disso, são de uma beleza surpreendente, que provoca sentimentos de satisfação bucólica e admiração.

No Sermão da Montanha, o Mestre do Amor proclamou: "Considerai os lírios do campo, eles não trabalham nem fiam, mas nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles". Uma bela mensagem para a era atual, em que o excesso de trabalho e a negligência com os entes queridos e a beleza natural que nos rodeia são comuns. Pode-se dizer que, assim como os lírios, as majestosas tamareiras inspiram reflexões semelhantes, pois ao se parar para admirá-las, somos transportados a um universo de serenidade e paz. Assim, a tamareira, em sua majestade solitária, nos convida a contemplação e à introspecção. Em meio à agitação da vida moderna, a tamareira nos chama a desacelerar, a apreciar a beleza ao nosso redor, a refletir sobre o mistério e a maravilha de nossa existência.

De fato, o enigma da tamareira se estende ainda mais além, oferecendo um espelho para refletir a natureza de nossa própria existência. Em suas folhas, em suas raízes, em seus frutos, encontramos ecos de nossa própria jornada humana, impregnada de alegria e sofrimento, de esperança e desespero. As tamareiras, suportando o calor implacável do deserto, nos lembram da resiliência que cada um de nós deve carregar em nossos corações. A vida, sem dúvida, tem seus momentos de crueza severa, seus desertos de solidão e desespero. Mas, assim como a tamareira, podemos encontrar dentro de nós a força para resistir, para permanecer firmes diante das tempestades da vida, acreditando no potencial que temos de florescer mesmo em meio à adversidade.

Ademais, a tamareira é generosa, oferecendo seus frutos mesmo quando aquele que a plantou não está mais presente para desfrutar de sua doçura. Aqui, somos lembrados de um princípio fundamental da desambição - que o verdadeiro ato de dar é desinteressado, não buscando recompensa ou reconhecimento. É um lembrete para cada um de nós de que a verdadeira generosidade se encontra no ato de contribuir para o bem-estar de gerações futuras, mesmo que nunca possamos testemunhar os frutos de nossos esforços.

Entretanto, a tamareira não é apenas uma doadora, mas também uma recebedora. Ela recebe nutrição do solo, luz do sol, água das chuvas raras. Aqui, somos lembrados da importância da reciprocidade, do equilíbrio entre dar e receber. Cada um de nós é nutrido pelas contribuições dos outros, seja o amor de nossos entes queridos, o conhecimento de nossos professores, ou o sustento fornecido pelos agricultores. Reconhecer e agradecer estas dádivas é uma parte essencial do equilíbrio da vida.

A tamareira, em sua sabedoria silenciosa, nos ensina também sobre paciência e tempo. Ela não apressa seu crescimento, nem lamenta a lentidão de seu processo. Cada estágio de sua vida é aceito com graça e tranquilidade. Aqui, somos lembrados da importância de abraçar o ritmo natural de nossas vidas, de respeitar o tempo necessário para o crescimento e a transformação.

Há muitos outros ensinamentos que podem ser extraídos do provérbio árabe e das características intrínsecas das tamareiras. Se realmente incorporarmos a sabedoria que elas ensinam, tornar-nos-emos seres mais elevados e mais felizes. A tamareira não é apenas uma árvore, mas um guia, um professor, uma fonte de inspiração. Ao meditar sobre suas lições, somos convidados a viver de uma maneira mais profunda, mais consciente e mais compassiva.



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