A triste politização da ciência nos testes da vacina contra a Covid-19

POR VANDI DOGADO

Tempos de quietude intelectual são
perigosos, porque quem deveria opor-se à defesa da ignorância se cala; logo, em
decorrência do covarde silêncio de cérebros pensantes, eclode
sociedades cujos paralisados cérebros não
distinguem fato de cilada; pior ainda, a maioria entrega-se à armadilha de falaciosos discursos. (Tales Niechkron)

A maioria do povo brasileiro conhece a disputa política
na corrida pela primeira vacina no Brasil, principalmente entre João Doria (governador
de São Paulo) e Jair Bolsonaro (presidente da República). Considero que a visão
do governador sobre pandemia tem sido mais sensata do que a do presidente, contudo,
não sou ingênuo de cair na conversa mole de que Doria não esteja com
intenções políticas. Aliás, mais sensata não, é inexistente qualquer sensatez
em Jair Bolsonaro. Doria faz política, mas com algo que será benéfico para os brasileiros. As histórias ruins sobre a vacina chinesa é balela da extrema-direita. Os cientistas envolvidos no desenvolvimento da vacina são sérios. Agora, a coisa pegou fogo! O episódio tornou-se demasiado contendente com a paralisação dos testes no Brasil da vacina da Sinovac (empresa
chinesa em parceria com o Instituto Butantan) por decisão da Anvisa (Agência Nacional Vigilância Sanitária). O
Instituto Butantan alega que enviou todos os dados à Anvisa sobre uma morte de um dos testados. Já a Anvisa alega que
não recebeu as informações completas. Os critérios não permitem aos responsáveis pela
pesquisa revelar detalhes sobre mortes em testes de vacinas, mas a imprensa
divulgou que a causa da morte foi suicídio mediante suposição de uso de drogas ilícitas. Segundo o boletim de ocorrência, o
homem foi encontrado morto ao lado de seringas. A mídia também anunciou que a morte não teria nenhuma relação com a vacina.



Sabe-se que o presidente da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, é um
aliado muito próximo de Jair Bolsonaro. A mídia divulgou diversas ocasiões em
que apareceu sem máscara em plena pandemia ao lado do presidente da República.
Algo impensável em um país que leva a sério a ciência. O diretor do Butantan,
Dimas Covas, responsável pelas pesquisas da Sinovac no Brasil, refutou categoricamente as
afirmações de Barros sobre os dados enviados para a Anvisa. Disse que enviou
todas as informações necessárias. A Rede Globo apressou-se em insinuar que a
Anvisa estivesse politizando a situação. A meu ver, realmente estava; porém,
deve-se tomar cuidado nessas horas. Afinal, os dados foram enviados completos
ou não? Quem está dizendo a verdade? Difícil saber! Presumo que o pessoal da
Anvisa demonstrou algumas falhas na argumentação. Até porque deve haver protocolos que demonstrem o envio dos dados sobre a morte. A verdade que ficou muito vaga a explicação da Anvisa. Obviamente que testes
com vacinas devem ser imediatamente suspensos quando surgem efeito
adverso grave ou morte relacionada à substância ativa.



Não sabemos se o rapaz tomou a
substância ativa ou placebo. Se fosse placebo, claramente sua morte não teria relação com a vacina. Agora, caso tenha tomado a substância ativa,
restaria uma pergunta: a vacina poderia estar contaminada com alguma substância que poderia ter provocado "depressão imunológica" no rapaz? Sabe-se que determinadas substâncias químicas podem
provocar suicídio. Não é o caso de vacinas. Refiro-me à possibilidade de uma possível contaminação involuntária por falhas dos cientistas que desenvolvem a vacina da farmacêutica Sinovac. A Anvisa nada mencionou sobre tal hipótese. Até porque seria uma gravíssima acusação que terminaria parando na Justiça. Ademais, as chances disso ocorrer beira a zero, mas, caso houvesse
tal possibilidade, pelo menos seria uma justificativa. Porque dados incompletos não são justificativa para a interrupção dos testes com a vacina. Até porque, mesmo que os dados estivessem incompletos, não seria mais sensato solicitar as informações mais
detalhadas sobre a morte ao Butantan? O diretor-presidente da Anvisa declarou à BandNews que seria o Butantan que teria de entrar em contato com a Anvisa e não o contrário. Afirmou que estão politizando a vacina, mas será que ele não? Qual a razão daquela nota na imprensa? Cabe uma investigação sobre a atitude da agência reguladora. 



O fato foi péssimo para a ciência. Nomear
profissionais científicos que se prezam às ideologias ideológico-políticas é lastimável. Pior ainda foi o presidente da República chamar o povo de “marica”
porque teme o vírus. Não só se trata de uma expressão preconceituosa como também é um enorme desrespeito com as famílias de vítimas da Covid-19. São
mais de 162 mil mortes. Sem contar aqueles que ficaram com acentuadas sequelas em
decorrência de complicações da Covid-19. Jair Bolsonaro é...! Um ser
humano frio e insensível. Passou toda sua carreira política no legislativo
culpando o governo, agora que é governo, culpa "fantasmas" por seu desastroso
governo. Quantas mortes poderiam ter sido evitadas se a União tivesse um plano
estratégico de enfrentamento ao Sars-Cov-II? Quantas mortes poderiam ter sido
evitadas se o presidente não tivesse se colocado contra o isolamento social e o uso de máscara? Lamentável! Enfim, o Comitê Internacional Independente solicitou à Anvisa o retorno aos testes. O Supremo Tribunal Federal solicitou explicações à Anvisa sobre as razões da proibição da continuidade da pesquisa. Tenho informações de que a Anvisa irá liberar a pesquisa da Sinovac ainda hoje por receio de responsabilidade legal. De tudo isso, o pior foi a comemoração indireta do presidente Bolsonaro. Vociferou que foi mais uma que ele venceu. Venceu o quê? A vacina? Não procede. Os testes irão prosseguir. Venceu o Dória? Em quê? O governador estrategicamente ficou quieto e observou o adversário político "atirando no próprio pé". Não se pode esquecer de que uma família está em luto pela morte do rapaz. Indiretamente, Bolsonaro comemorou uma morte! Presenciar a fala absurda de um presidente da República é algo bem repugnante. 



PS: Você, sofomaníaco idólatra, que está pensando em usar um Ad Hominem ou Falácia do Espantalho nos
comentários. Vá firme! É só o que pode fazer! Não defendemos este ou aquele político, somos defensores do método científico, da prudência e da solidariedade. 

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